Por Max Lucado
Ele colocou uma porção de barro após outra, até que uma forma sem vida repousasse sobre o chão.
Todos os habitantes do Jardim pararam para contemplar aquele evento. Os falcões pousaram. As girafas se esticaram. As árvores se inclinaram. As borboletas pousaram em pétalas e assistiram.
"Você me amará, natureza," Deus disse. "Eu fiz você assim. Você me obedecerá, universo. Você foi feito assim. Você resplandecerá a minha glória, céus, pois assim vocês foram feitos. Mas este aqui será igual a mim. Ele será capaz de escolher."
Todos permaneceram em silência quando o Criador chegou-se a Si mesmo e pegou algo nunca visto. Uma semente. "É conhecida como 'escolha'. A semente da escolha."
A criação permaneceu em silêncio e contemplou a forma sem vida.
Um anjo disse: "Mas e se ele..."
"E se ele escolher não me amar?" o Criador completou. "Venha, Eu vou lhe mostrar."
Sem a prisão do tempo, Deus e o anjo caminharam até a esfera do amanhã.
"Ali, veja o fruto da semente da escolha. Ele é doce e amargo."
O anjo se deslumbrou com o que viu. Amor espontâneo. Devoção voluntária. Ternura escolhida. Ele nunca tinha visto nada assim. Ele sentiu o amor de Adão. Ele ouviu a alegria de Eva e suas filhas. Ele viu a comida e os bens sendo compartilhados. Ele absorveu aquela bondade e ficou maravilhado com o calor que ela possuía.
"O Paraíso nunca viu nada tão belo, meu Senhor. Verdadeiramente, esta é a Sua maior criação."
"Ah, mas você viu apenas o doce. Agora contemple o amargo."
Um fedor envolveu a ambos. O anjo ficou horrorizado e disse: "O que é isso?"
O Criador disse apenas uma palavra: "Egoísmo."
O anjo permaneceu calado enquanto eles passavam através de séculos de repugnância. Nunca havia visto tamanha imundície. Corações podres. Fidelidades esquecidas. Filhos da criação peregrinando cegos em labirintos solitários.
"Este é o resultado da escolha?" o anjo perguntou.
"Sim."
"Eles se esquecerão de Você?"
"Sim."
"Eles O rejeitarão?"
"Sim."
"Eles nunca voltarão?"
"Alguns sim. A maioria não."
"O que é necessário para fazê-los ouvir?"
O Criador caminhou no tempo, anos através do futuro, até que parou em frente a uma árvore. Uma árvore com a qual se poderia fazer um berço. Ele já podia sentir o cheiro do feno o envolvendo.
Dando mais um passo no futuro, Ele parou diante de outra árvore. Estava sozinha, soberana em uma colina vazia. O tronco era espesso e a madeira era forte. Logo seria cortada. Logo seria trabalhada. Logo seria colocada na borda rochosa de uma outra colina. E logo Ele estaria pendurado nela.
Ele sentiu o atrito da madeira contra as suas costas, mesmo antes de segurá-la.
"Você vai descer até lá?" o anjo perguntou.
“Vou."
"Não há outra opção?"
"Não, não há."
"Não seria mais fácil não plantar a semente? Não seria mais fácil não dar a escolha?"
"Seria, " o Criador disse lentamente. "Mas remover a escolha é remover o amor."
Ele olhou em torno da colina e previu a cena. Três figuras penduradas em três cruzes. Braços abertos. Cabeças tombadas à frente. Eles gemiam com o vento.
Homens com vestes de soldados sentados no chão, próximos ao trio. Eles brincavam na sujeira e riam.
Homens com vestes religiosas permaneciam ao lado. Ele sorriam. Arrogantes, pretensiosos. Eles protegeram a Deus, pensavam, matando esse falsário.
Mulheres vestidas de tristeza amontoavam-se aos pés da colina. Sem palavras. Faces em lágrimas. Olhos ao chão. Uma colocou seu braço em volta da outra e tentou levá-la embora. Ela não sairia. "Eu vou ficar, " disse calmamente. "Eu vou ficar."
Todo o céu se levantou para lutar. Todos se levantaram para resgatar. Toda a eternidade se firmou para proteger. Mas o Criador não deu nenhum comando.
"Isto tem de ser feito..." ele disse, e se retirou.
E à medida que Ele voltava no tempo, ouviu o clamor que algum dia seria gritado: "Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?" (Marcos 15:34). Ele arrancou a agonia do amanhã.
O anjo disse novamente. "Poderia ser menos doloroso..."
O Criador interrompeu gentilmente. "Mas não seria amor."
Eles entraram no Jardim novamente. O Criador olhou seriamente para a criação de barro. Uma brisa de amor fluiu dEle. Ele havia morrido pela criação antes de tê-la criado. Deus se inclinou sobre a face esculpida e soprou. A poeira voou sobre os lábios do novo ser. O tórax inflou, quebrando o barro vermelho. As bochechas viraram carne. Um dedo se moveu. E um olho se abriu.
Porém, mais incrível do que o mover da carne era o mover do espírito. Aqueles que viram o que nunca antes havia sido visto ficaram maravilhados.
Talvez tenha sido o vento que disse primeiro. Talvez o que a estrela viu naquele momento foi o que a fez brilhar pela primeira vez. Talvez tenham deixado o anjo sussurar:
"Parece com... parece muito... é Ele!"
O anjo não estava falando sobre a face, as capacidades, ou o corpo. Ele estava olhando para o interior - para a alma.
"É eterno!" suspirou outro.
Dentro do homem, Deus colocou uma semente divina. Uma semente dEle mesmo. O Deus Todo-Poderoso havia criado o maior poder da Terra. E Aquele que escolheu amar criou um que poderia retribuir a este amor.
Agora a escolha é nossa.
Extraído de "In the Eye of the Storm"
Copyright (Thomas Nelson, 1997) Max Lucado